Nas monumentais pirâmides do Egito

Leia a seguir mais um relato de Maria Tereza de Queiroz Piacentini (Cadeira 21)

Era o ano 1995. Resolvi passar pela terra dos faraós antes de ir a Israel para visitar minha filha, que estava trabalhando em Tel Aviv depois de ter permanecido alguns meses no kibutz Shaar Haamakim.

EGITO

Não se sai do Egito sem ver as pirâmides, claro. O que me surpreendeu foi avistá-las da piscina do hotel – tão perto da cidade! Entrar numa delas? Nem pensar em me abaixar tanto. Andar de camelo? Vamos tentar… Não gostei, desci logo, uns passos adiante. O que mais me encantou, afora as antiguidades: escutar um grupo de idosos tocando música árabe em frente ao restaurante (foto); assistir a dança do ventre num barco ao longo do rio Nilo; observar um casamento nas ruas de Alexandria.

Numa tarde de folga, peguei um táxi para ir ao The Egyptian Museum. Entre umas e outras coleções de arte maravilhosas, parei para tomar água no topo de quatro degraus perto da porta principal, de onde vejo entrar um grupo de excursão. Em meio a toda aquela gente, um moço alto me chamou a atenção, pois se parecia com um amigo de Joaçaba que eu não via desde os tempos da faculdade. Gritei: “Maaarcos!” Era o próprio. Falamos com certo atropelo e nos abraçamos com muita alegria.

 

UM ENCONTRO INUSITADO

Dia de visita ao mercado público do Cairo: o ônibus da excursão estaria nos esperando depois de uma hora em frente ao Banco do Egito. Em pouco tempo eu já tinha comprado o que desejava e iria ficar só apreciando os produtos expostos ou quem sabe provar uns doces árabes, quando uma moça (dez anos mais velha do que eu) que viajava sozinha na nossa excursão me pediu para acompanhá-la a determinada loja, pois seu inglês não era muito bom. Lá ela pede 10m de um tecido e mais 6m de outro. Feitas as contas, a fulana resolve medir as peças e descobre, indignada, que uma delas contava meio metro a menos.

Começa então uma discussão, eu traduzindo que a compradora não iria levar mais nada. Nisso ela sai da loja em disparada. Fui correndo atrás dela, e atrás de nós duas o vendedor! Só consegui alcançá-la quando já nos encontrávamos na parte local do mercado, os egípcios sentados com sua mercadoria de um lado e outro da rua, deixando uma passagem estreita no meio. “Acho que precisamos voltar”, eu lhe digo apreensiva. Mas ela continuou andando. Escrevi Bank of Egypt num papel e o mostrei a três vendedores diferentes, perguntando de que lado ele ficava, mas não me entenderam!

Quase um quilômetro depois, divisei uma mulher jovem na multidão, a quem me dirigi. Ela disse que o banco se encontrava no lado oposto da nossa caminhada, e o seu acompanhante idoso acrescentou que duas mulheres estrangeiras ali corriam perigo. Foi quando a colega, desequilibrada, começou a gritar: “Brazilian! Socorro!”, pegando de novo a direção errada. Aí eu me encrespei: “Para com isso e me segue se quiser. Agora sou eu que comando!”

Lá fui, com o passo apertado e o coração na boca, sem saber quantas centenas de metros eu conseguiria andar nos 13 minutos que faltavam para a saída do ônibus. De repente olho duas quadras à frente, e quem vejo se destacando pela altura? O amigo Marcos, a quem corro abraçar aliviada. Ele me indica por onde seguir. Era perto. Foi a derradeira vez que o vi na vida. Marcos já estava com câncer (eu não sabia) e morreu poucos meses depois.

Grupo musical mencionado no texto

A famosa Cidadela do Cairo

 

ISRAEL

Não se sai de Israel sem conhecer os lugares sagrados do Cristianismo, o Muro das Lamentações e o Domo da Rocha; sem banhar-se no rio Jordão ou mergulhar no mar Morto. A terra de Jesus e dos hebreus é feita de gente séria, industriosa, receptiva e musical. Terminada a excursão de oito dias, fiquei mais uma semana com minha filha em Tel Aviv, e no feriado de Rosh Hashanah (Ano-Novo judaico) fomos a Jerusalém, onde percorremos os setores árabe e judeu da cidade. Foi neste último que degustei uma das três melhores lasanhas da minha vida – o molho era feito com espinafre e queijos, tudo banhado com azeite de oliva da melhor qualidade! Já na noite de sexta-feira encontramos todos os restaurantes fechados, porém o McDonald’s resolveu o nosso jantar.

 

UM ENCONTRO INUSITADO

No dia seguinte, respeitando a tradição religiosa, não havia nem mesmo uma cafeteria ou lanchonete aberta ao público. Sugeri então irmos ao melhor hotel do bairro, onde certamente encontraríamos o que comer. Deu certo, mas só havia sanduíches prontos para levar. Ao entrarmos no elevador, encontramos um ex-governador do Paraná, a quem me apresentei. A conversa foi rápida e cordial, ele se dizendo contente em conhecer as “vizinhas”. Naquela noite, Dulce e eu fomos à telefônica para fazer uma chamada ao Brasil, o que não se conseguia de imediato. Enquanto esperávamos, entra no recinto o conhecido político paranaense, com expressão compungida, e nos conta que vinha telefonar aos seus parentes no Líbano para pedir que lhe trouxessem dinheiro em cash, pois sua esposa estava hospitalizada em Jerusalém fazia cinco dias e, dado o alto custo da internação, os dólares que ele tinha trazido nessa viagem estavam chegando ao fim. Depois da confidência ou desabafo, interessou-se em saber o que faziam mãe e filha em Israel. Conversamos um bom tempo. Imagino que tudo tenha corrido bem com o casal depois daquela desafortunada experiência. A última vez que tive notícia de José Richa foi com a leitura do seu obituário em dezembro de 2003. Mas ficou a lembrança de um ser humano agradável e sensível.

Excursão de brasileiros em Israel

Santo Sepulcro, Jerusalém

Monte Carmelo, Haifa

Tel Aviv