No mundo subjetivo, pensamentos surgem para dar testemunho. Não há solidão e sim intensa presença que não fala e não se cala na mente que se agita, buscando libertar-se das amarras com coragem, remanescendo em parte pela pressão da história de vidas que tentam viver exiladas das superficialidades.

Luiz Alberto Silveira (*)

Quanto de verdades suporta a alma que se encontra mutilada pelas provações e descasos, mas renovada pela compreensão dos desafios? Nada é proibido quando há riqueza de sentimentos nas verdades escancaradas sem medos e censuras. Nada é proibido quando as mentiras afloradas no cotidiano causam calafrios e tempestades de pensamentos não encontram justificativas para retrocessos e pobreza no pensar e agir.

Nas palavras caladas existem cadências sofridas e felizes que se acumulam no tempo vivido, e comunicar não traz receios, pois nada mais fará sofrer o espírito quando se é surpreendido no limiar da percepção do cotidiano e se alcança anos de existência diversificada.

Viver é uma experiência projetada em cenários de alegrias e tristezas, encontros e desencontros, chegadas e despedidas, que engrandecem continuadamente aquele que ousa fazer o bem. Viver é sentir.

Tudo dura pouco, muito pouco, e no fim (um pouco antes do fim) as sombras vão se clareando na mente e as saudades, os pecados, os pedaços e as bondades vão se tonando cada vez mais presentes, montando a história de uma vida. A serenidade vai chegando aos poucos, rompendo com os receios e a valorização das aparências, evidenciando a essência que se deve buscar. E tudo que vai se estabelecendo são as sensações, as emoções e as reflexões que vêm se refinando com o passar dos anos. É o espírito submetendo a matéria.

E o remédio para a paliação das iniquidades que o modernismo produz, pobre em empatia, é a liberdade e a vontade da expressão de sentimentos elevados, gerando necessidade de um reflexivo enfrentamento e argumentos para uma boa e atraente prosa. E no silêncio, que se permite a uma conversa rica, existem certezas que vêm do instinto que busca a paz necessitada em ser expressa. É a vida redescobrindo-se depois da luta, rica em tanto, de tudo e de todos, capaz de ensinar e aprender sempre.

Os talhados em cedro mole, colchão de existências maleáveis, impertinentes em certezas não compreendidas, consideram as culpas e as neutralizam com bondades desenvolvidas com médias e pequenas tarefas de socorros e compreensões neste mundo ainda doentio, necessitado dos remédios das grandes tarefas.

Escrever é imprescindível afazer mental, que de forma singela, empática e afetiva busca conciliar espíritos em turbulências, carentes de encontros que elevem. Valorizar as pequenas coisas, desprezadas, neutraliza as inquietudes que decorrem do descaso vigente quanto à ética e ao amor.

Amor, o grande guarda-chuva de atenções e acolhimentos, dá sentido à vida diminuindo dores, cansaços e carências.

Assim, os medos vão diminuindo pouco a pouco, a força da calma e da alma aumentando muito a muito e a vontade de ser útil, enquanto possível, motivam dias mais fecundos em dizeres, fazeres e pensares, com a emocionante tarefa de escrever para alcançar parceiros que se identificam com a certeza de que viver é uma epopeia, uma poesia épica, rica em derrotas e vitórias preparadoras do espírito para um mundo maior e desejosamente melhor.

(*) Luiz Alberto Silveira, da Academia de Medicina (cadeira 16), da qual é presidente, e da Academia Catarinense de Letras (cadeira 35), é médico (UFSC/1973) e oncologista clínico (1979). Seus textos científicos e literários têm recebido vários reconhecimentos, entre os quais da Câmara Municipal de Florianópolis e da ACL. Entre outros livros, é autor de “Retratos Pandemia 2020” (indicado ao Prêmio Jabuti); “Make a Choice to be Happy”, publicado no Canadá.