Veja as datas importantes no âmbito da Academia Catarinense de Letras em março de 2022.

Pesquisa e texto do acadêmico JALI MEIRINHO, Cadeira 30.

DIA 9 – 80 anos do nascimento, em Antônio Carlos, do professor, ensaísta e crítico literário LAURO JUNKES, segundo ocupante da Cadeira 32 da ACL e seu presidente no período 2003-2010. Doutor em Teoria da Literatura, na sua obra em livros, revistas, jornais e suplementos privilegiou a criação dos escritores de Santa Catarina, incluindo cerca de quarenta títulos que organizou para a Coleção da ACL, publicados entre os anos de 1991 e 2010. No ensaio A Poesia é Essencial!, assinala: A poesia é a expressão da subjetividade e da sensibilidade do poeta, que vivencia, num dado momento, uma determinada emoção forte e contagiante, sendo incapaz de sufocá-la em si, mas abrindo-se para consubstanciá-la em palavras, no poema, e assim transmiti-la, torná-la reciclável pelos outros. O reino da poesia é a alma, o espírito, a sensibilidade, a emoção, o abismo infindável do mundo interior, pelo que Novalis podia afirmar que “poesia é a arte de excitar a alma”, ou, como Croce a definia, “a poesia é a linguagem do sentimento”. Conclui citando Cassiano Ricardo: Que é Poesia? Uma ilha cercada de palavras por todos os lados. In: ANTOLOGIA 2. Org. José Curi. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, 2004.

DIA 11 – 90 anos da morte, em Florianópolis, da poetisa, contista e cronista DELMINDA SILVEIRA DE SOUZA, primeira titular da Cadeira 10 da ACL. A presença de Delminda Silveira, também com o pseudônimo Brasília Silva, nas páginas literárias dos jornais e revistas catarinenses foi constante, no final do Oitocentos e pelas três décadas iniciais do século XX. Também ganhou espaço mensal na revista A Mensageira, editada em São Paulo, entre 1897 e 1900, junto com a consagrada Júlia Lopes de Almeida. Em vida, Delminda publicou três livros: Lizes e Martírios (1908); Cancioneiro (1914) e Passos Dolorosos (1931). Em 2009 foi editado DELMINDA SILVEIRA – OBRA COMPLETA, volume 39 da Coleção ACL. No Panteão Catarinense, inserto no Cancioneiro, a Autora reuniu estadistas, poetas, artistas e guerreiros, distinguindo Anita Garibaldi com estes versos: A Pátria ergue-te um sólio, ergue-te um canto!/ Heroína imortal, mulher sublime!/ Aureola-te a fronte um brilho santo,/ Que – Virtude e Valor – somente, exprime!/ Salve! – guerreira intrépida, famosa!/ – Filha gentil do sul catarinense,/ Cujo valor, na luta sanguinosa,/ Anima, assombra e, subjugando – vence! In: Delminda Silveira. OBRA COMPLETA – Delminda Silveira de Souza. Org. Lauro Junkes. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, 2009.

DIA 19 – 124 anos do falecimento, em Sítio, atual Antônio Carlos (MG), do poeta JOÃO DA CRUZ E SOUSA. Patrono da Cadeira 15 da ACL. Em carta do Rio de Janeiro, datada de 8 de janeiro de 1889, Cruz escreveu para o amigo Virgílio Várzea: Adeus! Saudades infinitas à tua encantadora família, e que eu lhe desejo bons anos de ouro e de festas alegríssimas no meio das mais soberanas das satisfações. […] Veste o “croisé” e vai, por minha parte, apresentar pêsames sinceros e honestos às tuas Exmas. primas, pela morte do cavalheiro, do limpo homem de distinção José Feliciano Alves de Brito. Não te esqueças, honra-me por esse modo delicado e gentil. Abraça-te terrivelmente saudoso. Cruz e Sousa. In: Sousa, Cruz e. OBRA COMPLETA – Prosa. Jaraguá do Sul: Avenida, 2009 v. 2.

DIA 19 – Um ano da morte, em Florianópolis, do escritor JOÃO PAULO SILVEIRA DE SOUZA, terceiro ocupante da Cadeira 33 da ACL. Foi um dos nomes mais representativos da geração que se iniciou com o Círculo da Arte Moderna, depois identificado como Grupo Sul, título da sua revista. Por mais de meio século Silveira de Souza atuou na cena literária com a publicação de livros, na edição de jornais e suplementos literários e na organização de coletâneas de autores seus contemporâneos. Dos seus livros considerava Contas de Vidro o mais próximo da linguagem da poesia. Nele publicou Prosema III – Hino à Beleza Intelectual, onde conta: Quando ainda um garoto procurei por espíritos e corri atento por muitos quartos, cavernas e ruínas, e bosques sob as estrelas, com passos assustados, perseguindo esperanças de altas conversas com almas desencarnadas. Invoquei nomes assombrados e peçonhentos com os quais a nossa juventude é alimentada. Nunca fui escutado; jamais os vi. Ao meditar fundamente nos azares da vida, naqueles doces instantes em que os ventos vêm cortejar todas as coisas vitais que trazem notícias de pássaros e florescências, então de súbito, Espírito da Beleza, tua sombra caiu sobre mim. Deixei escapar um grito estridente, apertei minhas mãos em êxtase! In: Souza, João Paulo Silveira de. CONTAS DE VIDRO. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, 2002. Coleção ACL nº 20.

DIA 22 – Um ano do falecimento em Brusque, onde estava hospitalizado, do advogado, jornalista, professor e escritor JOÃO NICOLAU CARVALHO, quarto ocupante da Cadeira 9 da ACL e seu presidente no período 1988-1989. Como primeiro Superintendente da Fundação Catarinense de Cultura, em 1979, promoveu a implantação e expansão daquela instituição. Foi, também, Reitor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, membro do Conselho Estadual de Educação e do Conselho Estadual de Cultura. Foi autor de contos, ensaios e crônicas, tendo como referência o livro Rasga-Mortalha, de 1982. No seu conto Crônica de Família narrou: Neemias era fervoroso monarquista. Mas quando soube, nos idos de 1900, que o Imperador fugira para a Europa, ficou muito escorropichado. Rasgou as fotos da família imperial, raspou a barba, esconjurou-se sete dias com água benta e arruda – e transferiu a maioria das terras para o neto; que desde que visitara Nossa Senhora do Desterro cultivava manias republicanas. (Que não haja dúvidas: o avô era neto do trisavô de Ubyrajara e Ubyrajara neto do avô.) O trisavô morreu aos cento e dez anos. Deixou muito gado, duas canastras com dobrões de ouro, uma sesmaria e duas mulheres embarrigadas. In: ANTOLOGIA 1. Florianópolis: Edição da Academia Catarinense de Letras, 1991.

DIA 26 – 125 anos do nascimento, no Rio de Janeiro, do escritor JOSÉ BORGES CORDEIRO DA SILVA, segundo ocupante da Cadeira 34 da ACL. Formado no curso de piloto da Escola da Marinha Mercante do Brasil, atuou profissionalmente em viagens marítimas internacionais. Em 1926 estabeleceu-se em São Bento do Sul, ingressando no serviço público estadual e transferindo-se, depois, para Florianópolis, onde exerceu funções no Departamento das Municipalidades, no período do “Estado Novo”. Na imprensa, da Capital do Estado, foi articulista dos jornais Dia e Noite, A Gazeta, Diário da Tarde, e editor da revista Atualidades. Publicou os livros: Luz e Sombras (poemas); A Sombra do Passado (novela); Águas Passadas (crônicas); Um Alemão Ilustre (relato biográfico de Carlos Henrique Hildebrand) e Ogê Manebach (estudo biográfico). Na crônica Inimigo das Mulheres, descreveu o personagem: Encontrei o poeta Germiniano D´Eva, em manhã chuvosa e fria. Ele estava exaltado. Seu rosto seco, cor de charuto holandês, deixava-lhe transparecer o estado de espírito; até seu grande nariz pendia, avermelhado, como que encobrindo-lhe os lábios finos; entre estes, encobertos, e em contraste esquisito, apareciam as gengivas desertas. In: Cordeiro, José. ÁGUAS PASSADAS. Florianópolis: Editorial Uruguai Ltda. 1970.