Veja as datas importantes no âmbito da Academia Catarinense de Letras em dezembro de 2021.

Pesquisa e texto do acadêmico JALI MEIRINHO, Cadeira 30.

 

DIA 1 – 20 anos da terceira edição de Introdução à História da Literatura Catarinense, de autoria de OSVALDO FERREIRA DE MELO, quarto ocupante da Cadeira 20 da ACL. Sob o título Tomada de Posição, reproduzido das edições anteriores (1958 e 1980), o autor explica: A literatura catarinense sempre esteve para ser escrita e comentada e ainda assim estará; mesmo com o aparecimento deste trabalho. […] Na produção intelectual, quer a vaidade mórbida, quer a modéstia neutralizante, são ambas filhas bastardas de um imenso complexo de inferioridade mais coletivo que propriamente individual, para nós sul-americanos, desgraçadamente herdado e causador de improdutividade e de mau trabalho. É preciso sim, a bem da verdade, e para um melhor entendimento de nós mesmos, que se mostre tudo às claras. O que temos e o que não temos, aí a coisa. Não falsear, não inventar, não procurar valorizar, à força, o que instintivamente é destituído de valor. […] Por compreender isso é que não pretendo, neste trabalho, inventar nem literatura nem literatos, e sim comentar os problemas relativos aos fenômenos literários de Santa Catarina. In: Melo, Osvaldo Ferreira de. INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA LITERATURA CATARINENSE, 3. ed. rev., Porto Alegre: Movimento, 2001.

DIA 6 – 90 anos da morte, em Florianópolis, do médico, político, poeta e ensaísta LUIZ ANTÔNIO FERREIRA GUALBERTO, primeiro ocupante da Cadeira 4 da ACL. Natural da Bahia, veio para Santa Catarina em 1885, como médico sanitarista do porto de São Francisco do Sul. Republicano histórico, foi Superintendente Municipal, Deputado Estadual e Federal e Diretor de Higiene da Santa Catarina. Integrou os quadros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e foi autor de Prisões Clandestinas no Século XVIII – o conselheiro José Mascarenhas; A Denominação de Santa Catarina; A Fundação da Vila de São Francisco; Francisco Dias Velho e Os Casqueiros (sambaquis) de Santa Catarina. Ver: REVISTA DO IHGSC, anos 1902, 1915, 1944 e 2007.

DIA 11 – 115 anos do falecimento, em Cabo (PE), do advogado, político, escritor e poeta JOÃO SILVEIRA DE SOUZA, Patrono da Cadeira 18 da ACL. Bacharel pela Faculdade de Direito São Paulo, teve intensa atuação política no Brasil-Império. Foi deputado provincial em Santa Catarina e deputado geral. Presidiu as províncias do Ceará, Maranhão, Pará e Pernambuco. Ocupou o Ministério de Relações Exteriores no Gabinete Zacarias de Gois (1866-1869). Integrou o quadro docente da Faculdade de Direito do Recife. Autor de Minhas Canções (poesias), livro editado em 1846 pela Tipografia do Governo de São Paulo, e de vários trabalhos jurídicos. Em 1885 foi candidato ao Senado pela província natal, em oposição a Alfredo Taunay, quando produziu as Taunaydas, poemeto em que fustigava o adversário pelas páginas do jornal A Regeneração, em versos como: Que gravata de fiota! / Que pescoço mais comprido! / Que bigode retorcido! / Que figura de marmota! / Quem ver um retrato assim / Tão grosseiro, tão chinfrim, / tão sem gosto e sem arte, / Há de supor com razão / Ser apenas um borrão / De qualquer Sylvio Dinarte! (Sylvio Dinarte: pseudônimo que o Visconde de Taunay usou na autoria de vários de seus romances) In: A REGENERAÇÃO. Desterro, 21 de novembro de 1885.

DIA 13 – 100 anos do nascimento, em Aracati (CE), do médico e escritor HOLDEMAR OLIVEIRA DE MENEZES, segundo ocupante da Cadeira 12 da ACL e seu presidente no período de 1973-1978. No conto de sua autoria A Nona Sinfonia, descreve: O primeiro movimento, subintitulado de DECADÊNCIA DE UMA CIDADE QUE NUNCA FOI PRÓSPERA, prepara a cena para o denso final, no qual todo o drama está concentrado. […] A atmosfera lembra uma cidade em desaparecimento com suas casas em ruína, as ladeiras com limo em suas pedras por falta de transeuntes, ervas nos beirais das residências, lodo e ostras nos bancos da única praça, ferrugem nos sinos da igreja. Os trapiches, do tempo da chegada dos açorianos com seus suportes destruídos… […] Insidiosamente, numa insinuação sub-reptícia, alguns acordes da Marselhesa, em homenagem à lenda do Capitão Binot Paulmier de Gonneville, que, segundo os velhos e decadentes historiadores da cidade, todos seculares, o mais jovem com 185 anos, por ouvir dizer, que não há registros nem apontamentos oficiais, que dizem os ditos historiadores ter sido ele, por ordem do Rei de França, Capitão Binot Paulmier de Gonneville, o introdutor na cidade histórica das mais sofisticadas técnicas de libidinagem europeia, cujo cetro até hoje ninguém pôde arrancar das mãos dos franceses, mesmo que os nórdicos disputem com ardor e muitas ilustrações. In: SIGNO – Revista da Academia Catarinense de Letras n. 5, ano 8, 1975.

DIA 13 – 30 anos da posse da poetisa e escritora LEATRICE MOELMANN PAGANI, quarta ocupante da Cadeira 7 da ACL, recepcionada pela Acadêmica Sylvia Amélio Carneiro da Cunha, segunda ocupante da Cadeira 26. No preâmbulo do seu discurso de posse, Leatrice expressou prosa e poesia: Nas praças engalanam-se os flamboyants, faceiras as primaveras se debruçam pelas cercas e muros dos jardins. Abrem-se as corolas aos beijos dos colibris, e a sombras das ervas saltitam as corruíras. Nos caminhos das praias os espinheiros derramam sua alvura álacre e alvissareira. Pelas veredas dos morros as aragens do mar pulsam em festa. Bate o coração da Ilha! Sua filha dileta está sendo galardoada no umbral da Academia Catarinense de Letras. Cingem-lhe a fronte não os louros, mas as bromélias verde-vermelhas de Raulino Reitz, com as cores de Santa Catarina. Repiquem os sinos da catedral, repiquem os sinos do menino-Deus, repiquem os sinos da igreja de São Francisco, repiquem os da capela de São Sebastião! É a glória! In: REVISTA DA ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS n. 11, Florianópolis, 1992.

DIA 14 – 50 anos da posse do magistrado LUIZ D´ASSUNÇÃO GALLOTTI, terceiro ocupante da Cadeira 22 da ACL, sendo recepcionado pelo escritor NEREU CORRÊA DE SOUZA, primeiro titular da Cadeira 40. Na sua oração de posse, Luiz Gallotti revelou: De longe, acompanho e admiro os valores da nossa terra. Um exemplo: Quando há anos, comprei numa livraria de Brasília o primeiro romance de Guido Wilmar Sassi (São Miguel), sua leitura me deixou feliz, prevendo que o autor se situaria alto na literatura brasileira. Mas, desconfiado de que a minha condição de catarinense pudesse estar influindo no meu julgamento, pedi ao meu colega e amigo Ministro Cândido Motta Filho que também o lesse; e o julgador, sem autoridade nem isenção, que era eu, teve o seu veredito confirmado pela suprema instância: um dos mais ilustres membros da Academia Brasileira de Letras. Depois, enviei o livro ao meu fraternal amigo Octavio de Faria, que membro da mesma Academia, pois, tendo recusado várias vezes candidatar-se, agora é candidato único à vaga de Levi Carneiro. E ele publicou então um excelente artigo no “Correio da Manhã” sobre nosso coestaduano, artigo que tem a força de uma consagração. In: DISCURSOS DA ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS: Nereu Corrêa e Luiz Gallotti. ACL: Florianópolis, 1971.

DIA 15 – 180 anos do nascimento, na capital catarinense, do médico, político, escritor e poeta JOSÉ CÂNDIDO DE LACERDA COUTINHO, Patrono da Cadeira 23 da ACL. Serviu como voluntário no serviço médico brasileiro no início da Guerra do Paraguai. Antes de seguir para a Campanha publicou no jornal O Despertador o poema Hino de Guerra – Aos Voluntários Catarinenses, contendo estes versos: Eis-nos! Terra da cruz – nada temas / Vai troar nosso grito de guerra / Deixa o medo aos bárbaros escravos / Tem confiança nos teus, livre terra! / Ei-nos, Pátria! – teus filhos valentes / Nos entrega teu nobre pendão / Há de a glória levá-lo bem longe, / E plantá-lo no estranho torrão. […] Foi ouvido teu grito de angústia / Não desmaies – que estamos aqui! / Ai daquele que ousado, imprudente / A mão ímpia levou sobre ti! / […] Eis-nos Pátria no solo inimigo / Hasteado verás teu pendão! / E a teus pés, na poeira, humilhada / A cor vil da vencida nação. In: O DESPERTADOR, Desterro, 20 de fevereiro de 1865.

DIA 16 – 55 anos da morte, no Rio de Janeiro, do historiador Almirante LUCAS ALEXANDRE BOITEUX, Fundador da Cadeira 30 da ACL. Autor de copiosa obra sobre a história de Santa Catarina, também estudou a cultura popular, do que resultou o livro Poranduba Catarinense. No Exórdio, disse ele: Antes porém de iniciar o estudo a que me impus, explicarei por que emprego o vocábulo “Poranduba” (1) em vez de “Folk-lore”. Desde que exista no tupi-guarani um termo equivalente a outro em língua estranha à nossa, sou propenso a aceitá-lo incondicionalmente, pois o abánhêenga tem sido até o presente o manancial que mais tem modificado o pátrio idioma. (1) Poranduba é termo tupi-guarani e, segundo Barbosa Rodrigues, “não é mais do que a contração da preposição poro, fazendo as funções de superlativo, andu, notícia, aub, fantástico, ilusório, significando histórias fantásticas, fábulas, abusões, etc. É a tradução que temos para o termo Folk-lore (de Volk, povo, e lehre, dogma, lição, doutrina), que se refere à classe de estudos que abordamos” L.A.B. In: Boiteux, Lucas Alexandre. PORANDUBA CATARINENSE. Florianópolis: Comissão Catarinense de Folclore, 1957.

DIA 29 – 80 anos do falecimento, no Rio de Janeiro, do escritor VIRGÍLIO DOS REIS VÁRZEA, Patrono da Cadeira 40 da ACL. No conto de sua autoria A Pesca das Tainhas, descreve: O sol desfalecera de todo, entre as púrpuras luminosas, quando teve lugar o segundo lanço das redes e desta vez cento e cinquenta mil tainhas foram arrancadas do seio inesgotável do oceano imenso. Montões de peixe juncavam a praia semelhando prateadas dunas, que nesse instante imergiam na poeirada negra e invasora do crepúsculo. Uma aragem fria agitava os palmeirais e o céu ao alto começava a se dourar de estrelas. In: Várzea, Virgílio. CONTOS COMPLETOS: Tomo I. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, 2003.