Nos anos 80, ela salvou minha vida em Florianópolis, na madrugada, levando o médico Holdemar Menezes para me medicar no Hotel Fayal.

Deonísio da Silva (*) 

Eu tinha proferido aula magna na UFSC, depois saí com amigos, comi ostras e ia morrer de intoxicação. Liguei para a Maria Tereza Piacentini e disse: “Preciso de um médico urgentemente”. Ela levou o médico e escritor Holdemar Menezes, que conheci naquele dia.

Tenho cartas dele comentando o atendimento. Ele me perguntara ao chegar: que houve com o menino? Contei-lhe das ostras, que nunca mais comi. Ele disse, enquanto começava a me atender: “Fique tranquilo. Quando você nasceu, eu já era médico. Não sabia que você era tão jovem”.

Era. Ia fazer 34 anos. Dr. Holdemar Menezes era cearense, fizera Medicina no Rio e viera morar em Florianópolis. Seu sucessor na Academia Catarinense de Letras foi Edson Ubaldo, recentemente falecido.

Muito mais tarde, coube-me saudar a posse de Maria Tereza na Academia Catarinense de Letras. Ela sabe tudo de português e tal como os gaúchos Cláudio Moreno e Sérgio Nogueira integrou a meu convite o corpo de palestrantes para ensinar Português na Universidade Estácio de Sá. Na equipe, fomos então quatro do Sul: dois catarinenses e dois gaúchos. Sempre pensei e penso que o brilho alheio não diminui o seu, como acham tantos. Ao contrário, aumenta a claridade ao redor. Por isso, procuro somar.

É por isso que vou abrindo portas por onde passo. Outros também as abriram para mim. Sylvio Back me levou à editora Hoje, em Curitiba, para meu pequeno livro de estreia. Rubem Fonseca me levou à editora Artenova, no Rio, então uma das maiores do Brasil, para integrar um catálogo que tinha Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro e Clarice Lispector, entre outros referenciais.

Fui editor de Salim Miguel, ele abrindo as portas da José Olympio para um convênio com a Editora da UFSCar, que eu fundara e dirigia na Universidade Federal de São Carlos. Sérgio da Costa Ramos foi coeditado assim na Editora da UFSCar e na Mercado Aberto, cujo proprietário era meu amigo e catarinense, e nada sabia do conterrâneo, um dos cronistas mais fascinantes do Brasil.

Maria Tereza Piacentini teve livro lançado por mim na Editora da UFSCar e depois a levei para a Lexikon, onde eu já estava com meu livro carro-chefe, o “De onde vêm as palavras”.

Atualmente, já foram publicados Miro Morais e Moacir Pereira, e outros estão a caminho na coleção que tenho a honra de dirigir para o Projeto Editorial Almedina. Dois gaúchos também acabam de ser lançados ali por minhas mãos: José Carlos Gentili e Werner Schünemann, este conhecido ator que publicou agora seu romance de estreia. Juntos, unidos, sem encrencas mútuas, somos fortes.

Eis aí a redentora e o redimido algumas décadas depois. Amigos desde então e para sempre.

(*) escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, membro brasileiro da Academia das Ciências de Lisboa.